Historia de vida real – Expressão de género / Real Life Story – Gender Expression

Gender Expression

PT

Q. é o único rapaz de uma turma de 13 jovens de Técnico de Apoio à Infância, da Escola Secundária.  Agora, com 17 anos, Q é constantemente discriminado pelas opções que faz em termos de expressão de género. Situação que ocorre há vários anos e que já deu origem a situações muito desconfortáveis. A família imediata sempre foi um ponto de apoio e de aceitação da forma de estar do Q., embora por vezes os avós se mostrassem preocupados com o impacto no bem-estar do Q..

O Q sente-se mais à-vontade num grupo com raparigas do que com rapazes, gosta de trabalhar com crianças e de fazer manualidades, de canto e dança, é simpático e bem-educado, exprime o que sente e defende a Igualdade de Género. Toda a conjuntura da sua forma de estar sempre fez confusão a muitos rapazes da sua idade que achavam que ele não devia agir dessa forma, o que conduziu frequentemente a comportamentos de recusa e mesmo de repulsa por parte destes em relação a Q..

Alguns jovens fizeram o Q. passar por situações muito difíceis no seu dia-a-dia, e que lhe trouxeram muito sofrimento e dificuldade em se aceitar. O Q. chegou a pôr em causa tudo em que acreditava e a considerar-se um “monstro”, que não tinha como encaixar na sociedade. O 2º e o 3º ciclo foram fases extremamente complicadas de ultrapassar e nem os professores tomaram atitudes que eliminassem a manutenção da violência e do discurso de ódio contra Q. O jovem passou por fases de grande revolta com o mundo, com as pessoas e consigo mesmo.

O jovem diz que já fez um grande trabalho para se afastar de pessoas tóxicas e que tinham comportamentos graves de discriminação, como chamar nomes, pondo em questão a sua orientação sexual como se fosse negativo assumir outra forma que não a heterossexual, tratá-lo de forma a ridicularizá-lo ou diminuindo a sua masculinidade, como se as suas opções fizessem com que fosse menos homem e, por consequência, uma pessoa menos digna que as outras. Q. diz que a sua orientação sexual não tem de ser posta em causa por as suas preferências não se enquadrarem nas características tradicionalmente associadas ao “masculino”. Na escola é onde Q. sempre sentiu mais discriminação e discurso de ódio, havendo referências negativas à sua pessoa, chamando-lhe nomes ou isolando-o em relação ao grupo. Após uns anos de grande turbulência emocional e de relações sociais marcadas pelo bullying e discriminação, Q. conseguiu fazer um trabalho interior de crescimento e amadurecimento com a ajuda de amigos e da família.

Q. sente-se aceite nesta turma pelas colegas. As colegas da turma assumem esta questão e fazem referência a momentos e outros/as colegas que exerceram discriminação. Falam abertamente sobre o tema e mostram revolta em relação ao que o Q. passou e continua a passar.

 

EN

Q- narrative on discrimination and hate speech on Gender Expression

Q. is the only boy in a class of 13 youngsters from Child Care Assistant, from Olhão Secondary School. Now, at the age of 17, Q is constantly discriminated for the options he makes in terms of gender expression. This situation has been going on for several years and has already given rise to very uncomfortable situations. Q feels more comfortable in a group with girls than with boys, he likes children, and doing arts and crafts, singing, and other more “female” oriented activities. The young man says that he has already made a lot of effort to get away from toxic people that had done severe discriminatory behaviors, such as calling names, treating him in a way to demean him or diminishing his masculinity, as if his decisions made him less of a man and, consequently, a less dignified person than the others. Q. says he’s common person, just like any other, he just has some preferences that do not fit into the labels traditionally associated with "male". At school is where Q. feels more discrimination and hate speech, with negative references to him, calling him names or calling into question his choices in more typically "feminine" areas.

Q. feels accepted in this class by his colleagues. Several classmates take up this issue and refer to moments and other colleagues who have been discriminating Q. They speak openly about the topic and show outrage in relation to what Q. has gone through and continues to go through.